sábado, 15 de março de 2008

Quarta semana (Relato do professor)

Nessa quarta semana aproveitei para para implementar alguns redirecionamentos em algumas turmas. Algumas classes trabalham bem em grupos, outras não. Enquanto que o trabalho em grupo favore a aprendizagem em muitas ocasiões, em outras ele apenas desestimula a aprendizagem e dá oportunidade para que os alunos dispersem de vez em relação aos objetivos da aula.

Trabalhar em grupo é uma questão de "aprendizagem" (nem todos os alunos sabem aproveitar as oportunidades do trabalho em grupo) e depende fortemente das experiências anteriores dos alunos. Alunos dos segundos e terceiros anos tendem a trabalhar melhor em grupos do que os alunos do primeiro ano, mas isso não é uma regra confiável.

Um ponto interessante que observei nessa quarta semana é que não consigo me adaptar de forma satisfatória à proposta da recuperação. Eu sei que o foco dessas aulas é o reforço de atividades com ênfase em aspectos matemáticos e linguísticos, mas não consigo me esquecer de que sou professor de Física e que quero que meus alunos aprendam o máximo possível de Física. Isso faz com que para mim um gráfico não seja "apenas um gráfico" e que o pano de fundo das aulas assuma, por vezes, o cenário principal delas.

A dificuldade em me manter "preso" ao Jornal do Aluno me leva a extrapolá-lo na maioria das vezes. Os alunos gostam, participam e se envolvem em discussões. Fazem perguntas e querem saber mais. Isso não se deve a algum "defeito do Jornal do Aluno", mas sim ao fato de que qualquer material didático é limitado e pobre. Por outro lado, deixa claro que qualquer currículo é sempre uma "proposta sujeita a mudanças ao longo do percurso".

A avaliação contínua dos alunos têm mostrado que a quantidade deles que apresentam sérias dificuldades posturais (isto é, que não compreendem muito bem o papel deles como "alunos") é grande. Porém, mudanças de hábitos e atitudes, ganho de autonomia, melhora da auto-estima e da disposição para a produção inidividual têm sido observadas e são gratificantes. Alguns alunos se surpreendem com sua própria capacidade ao verem seus próprios resultados. Outros ainda não conseguem crer que sejam capazes e procuram meios de "obter resultados" sem o compromisso de produzí-los.

Permitir que todos avancem, quando os grupos são heterogêneos e grandes, é uma tarefa que requer um acompanhamento quase individual. Tarefa difícil em classes cheias. E muito mais difícil ainda se se exigir um registro muito burocrático dessas avaliações contínuas que o professor têm que fazer ao longo de suas aulas.

Uma coisa é observar atentamente os alunos e ajudá-los, passo a passo, a obterem melhores resultados; outra coisa bem diferente é fazer tudo isso com um caderninho na mão onde se deve fazer anotações sobre a evolução de cada aluno a fim de que algum burocrata possa guardá-las em alguma gaveta que ninguém abrirá. Tenho discutido isso com os colegas nos HTPCs, mas parece que alguns acreditam ainda que o foco dessas aulas é o registro das avaliações e não a aprendizagem dos alunos. O resultado desse foco desfocado é a produção de números fictícios sobre uma aprendizagem que não houve e a perpetuação de uma situação fantasiosa que só assume os horrores da realidade quando saem os resultados do SARESP.

No período noturno ainda estamos lutando contra a baixa freqüência das sextas-feiras. Comportamento estranho e generalizado: os alunos instituíram que as sextas-feiras podem ser emendadas no final de semana. Geralmente conseguimos resolver isso nas primeiras semanas do ano, mas até agora ainda temos algumas turmas (geralmente de primeiros anos) que apresentam de 40 a 60% de faltas nas sextas-feiras.

Nessa quinta semana que se inicia devo começar a pensar em como dar um fechamento a essas atividades de recuperação. Vamos ver...

Um comentário:

Cida Barros disse...

Caro JC,me impressiona a sua clareza sobre o processo ensino-aprendizagem. Também compartilho de suas impressões: os 1ºs anos estão me dando "muito trabalho" dado os tais "problemas posturais" e como você, esforço-me para não perder o foco (da matemática) e frequentemente viajo na física, quanto a avaliação, também concordo com você, avaliar é possivel, registrar ... Gde abraço

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